quarta-feira, 15 de julho de 2009

Augusto Jorge Cury - Análise da Inteligência de Cristo

Brilhando na arte de pensar

A arte de pensar é a manifestação mais sublime da inteligência. Todos pensamos, mas nem todos desenvolvemos qualitativamente a arte de pensar. Por isso, freqüentemente não expandimos as funções mais importantes da inteligência, tais como aprender a se interiorizar, a destilar sabedoria diante das dores, a trabalhar as perdas e frustrações com dignidade, a agregar idéias, a pensar com liberdade e consciência crítica, a romper as ditaduras intelectuais, a gerenciar com maturidade os pensamentos e emoções nos focos de tensão, a expandir a arte da contemplação do belo, a se doar sem a contrapartida do retorno, a se colocar no lugar do outro e considerar suas dores e necessidades psicossociais.

Muitos homens, ao longo da história, brilharam em suas inteligências e desenvolveram algumas
áreas importantes do pensamento. Sócrates foi um questionador do mundo. Platão foi um investigador das relações sociopolíticas. Hipócrates foi o pai da medicina. Confúcio foi um filósofo da brandura. Sáquia-Múni, o fundador do budismo, foi um pensador da busca interior. Moisés foi o grande mediador do processo de liberdade do povo de Israel, conduzindo-o até a terra de Canaã. Maomé, em sua peregrinação profética, foi o unificador do povo árabe, um povo que estava dividido e sem identidade.

Há muitos outros homens que brilharam na inteligência, tais como Tomás de Aquino, Agostinho, Hume, Bacon, Spinoza, Kant, Descartes, Galileu, Voltaire, Rosseau, Shakespeare, Hegel, Marx, Newton, Max Well, Gandhi, Freud, Habermas, Heidegger, Curt Lewin, Einstein, Viktor Frankl etc. A temporalida de da vida humana é muito curta. Em poucos anos encerramos o espetáculo da existência. Infelizmente, poucos investem em sabedoria nesse breve espetáculo, por isso não se interiorizam, não se repensam. Se compararmos a lista dos homens que brilharam em suas inteligências e investiram em sabedoria ao contigente de nossa espécie, ela se torna muito pequena.

Independente de qualquer julgamento que possamos fazer desses homens, o fato é que eles
expandiram o mundo das idéias no campo científico, cultural, filosófico e espiritual. Alguns não se preocuparam com a notoriedade social, preferiram o anonimato, não se importaram em divulgar suas idéias e escrever seus nomes nos anais da história. Porém, suas idéias não puderam ser sepultadas. Elas germinaram como sementes na mente dos homens e enriqueceram a história da humanidade. Estudar a inteligência deles pode nos ajudar muito a expandir nossas próprias inteligências.

Houve um homem que viveu há muitos séculos e que não apenas brilhou em sua inteligência, mas teve uma personalidade intrigante, misteriosa e fascinante. Ele conquistou uma fama indescritível. O mundo comemora seu nascimento. Todavia, em detrimento de sua enorme fama, algumas áreas fundamentais da sua inteligência são pouco conhecidas. Ele destilava sabedoria diante das suas dores e era íntimo da arte de pensar. Esse homem foi Jesus Cristo.
A história de Cristo teve particularidades em toda a sua trajetória: do seu nascimento à sua morte.

Ele abalou os alicerces da história humana por intermédio da sua própria história. Seu viver e seus pensamentos atravessaram gerações, varreram os séculos, embora ele nunca tenha procurado status social e político. Ele não cresceu debaixo da cultura clássica da sua época. Quando abriu a boca, produziu pensamentos de inconfundível complexidade. Tinha pouco mais de trinta anos de idade, mas perturbou profundamente a inteligência dos homens mais cultos de sua época. Os escribas e fariseus, que eram intérpretes e mestres da lei, que possuíam uma cultura milenar rica, ficaram chocados com seus pensamentos.

Sua vida sempre foi árida, sem nenhum privilégio econômico e social. Conheceu intimamente as dores da existência. Contudo, ao invés de se preocupar com as suas próprias dores e querer que o mundo gravitasse em torno das suas necessidades, ele se preocupava com as dores e necessidades alheias. O sistema político e religioso não foi tolerante com ele, mas ele foi tolerante e dócil com todos, mesmo com seus mais ardentes opositores. Cristo vivenciou sofrimentos e perseguições desde a sua infância. Foi incompreendido, rejeitado, zombado, cuspido no rosto. Foi ferido física e psicologicamente. Porém, apesar de tantas misérias e sofrimentos, não desenvolveu uma emoção agressiva e ansiosa; pelo contrário, ele exalava tranqüilidade diante das mais tensas situações e ainda tinha fôlego para discursar sobre o amor no seu mais poético sentido.

Muitos autores, ao longo dos séculos, abordaram Cristo de diferentes aspectos espirituais: sua
divindade, seu propósito transcendental, seus atos sobrenaturais, seu reino celestial, sua ressurreição, a escatologia (doutrina das últimas coisas) etc. Quem quiser estudar esses aspectos de Cristo terá de procurar os textos desses autores, pois a Análise da inteligência de Cristo investiga Cristo em outra perspectiva, sob um outro ângulo.

Este livro realiza uma investigação talvez nunca realizada pela ciência da interpretação ou nunca produzida pela psicologia. Investiga a sua singular personalidade. Analisa o funcionamento da sua surpreendente inteligência. Estuda sua arte de pensar, os meandros da sua construção de pensamentos nos seus focos de tensão.

A personalidade é constituída de muitos elementos. Em síntese, ela se constitui da construção de pensamentos, da transformação da energia emocional, do processo de formação da consciência existencial (quem sou, como estou, onde estou), da história inconsciente arquivada na memória, da carga genética. Aqui convencionarei que a inteligência é a manifestação da personalidade diante dos estímulos do mundo psíquico bem como dos ambientes e das circunstâncias em que uma pessoa vive. Todo ser humano possui uma inteligência, mas nem todos desenvolvem suas funções mais importantes.

Durante quase duas décadas em que tenho pesquisado o funcionamento da mente, a construção da inteligência e o processo de interpretação, posso afirmar com segurança que Cristo possui uma personalidade bastante complexa, muito difícil de ser investigada, interpretada e compreendida. Esta é uma das causas que inibiu a ciência de procurar investigar e compreender, ainda que minimamente, a sua inteligência.

Analisar a inteligência de Cristo é um dos maiores desafios da ciência. Após ter desenvolvido os alicerces básicos de uma nova teoria sobre o funcionamento da mente, comecei a me envolver neste enorme e estimulante projeto, que é investigar a personalidade de Cristo. Foram anos de estudo, em que procurei, dentro das minhas limitações, fugir das respostas achistas e do explicacionismo científico superficial.

Interpretar a história é uma das tarefas intelectuais mais complexas. É reconstruir a história, e não resgatá-la de maneira pura. Reconstruir os fatos, ambientes e circunstâncias do passado é um grande desafio. Se o leitor tentar resgatar as experiências mais marcantes da sua história, verificará que esse resgate freqüentemente reduz a dimensão das dores e dos prazeres vividos no passado. Estudaremos este assunto. Todo resgate do passado está sujeito a limitações e imperfeições. Este livro, que é um exercício de interpretação psicológica da história, não foge à regra.

Se interpretar a história é uma tarefa intelectual complexa e sinuosa, agora imagine como deve ser difícil investigar a inteligência de Cristo, os níveis de sua coerência intelectual, sua capacidade de gerenciar a construção de pensamentos, de transcender as ditaduras da inteligência, de superar as dores físicas e emocionais e de abrir as janelas da mente das pessoas que o envolviam.

Cristo possuía uma personalidade difícil de ser estudada. Suas reações intelectuais e emocionais eram tão surpreendentes e incomuns que ultrapassam os limites da previsibilidade psicológica. Apesar das dificuldades, é possível viajarmos por algumas avenidas fundamentais do pensamento de Cristo e compreendermos algumas áreas importantes da sua inteligência.

Um comentário:

  1. prefiro fazer o uso do que estava; está e estrará escrito... "o pricípio da sabedoria, é o temor a Deus". E o homem "o tal", o soberbo, é tolo.

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